O Ateliê da F1 mergulha nos mistérios da mitologia hindu. Nossa jornada começa com Saraswati, a deusa da sabedoria, das artes e da música. Representada com serenidade e elegância, ela carrega em suas mãos uma veena, instrumento de cordas que, ao ser tocado, parece falar com a alma.
Segundo um dos mitos, Saraswati nasce dos ossos de Brahma, o deus criador do universo. Em outra versão, ela surge de uma delicada flor de lótus branca, símbolo de pureza e conhecimento. Auxiliadora de Brahma, Saraswati traz à humanidade os dons da arte e da música. Com eles, ensina que a sabedoria e a beleza transformam a vida, tornando a existência mais leve, alegre e significativa.
Nossas crianças já avançaram para uma nova etapa na Capoeira.
Primeiro trabalhamos de forma lúdica aspectos como lateralidade, coordenação, estabilidade e a descoberta do próprio corpo. Agora seguimos para um estágio intermediário, em que os movimentos passam a ser treinados de maneira mais estruturada, ampliando a consciência corporal e o domínio do espaço, desenvolvendo a visão periférica, aprimorando o ritmo e a interpretação dos diferentes tempos da música e introduzindo acrobacias de forma progressiva, explorando movimentos um pouco mais complexos.
Tudo isso é feito sempre em sintonia com os movimentos da capoeira, para que as crianças compreendam que o corpo e o ritmo caminham juntos.
Seguimos nesse processo com muita dedicação para que cada criança se desenvolva de forma integral, fortalecendo não só o físico, mas também a concentração, a escuta e a expressão corporal.
Os primeiros anos visitaram mais uma exposição que dialoga com o projeto das turmas. Dessa vez fomos ao MUHCAB ver “Protagonismos – memória, orgulho e identidade”.
A exposição pretende valorizar a memória dos antepassados africanos, o orgulho das origens e identidades negras. Inspirados pelos ancestrais, por sua potência, sabedoria e seu poder de criação e transformação, buscaram criar uma exposição que conta a história do negro para além da história da escravidão.
Esculturas, pinturas, vídeos e belos murais fizeram as crianças revisitarem conhecimentos e descobertas feitas ao longo do semestre na escola e fazer novas relações, ampliando as experiências culturais.
Ao fim da visita, lancharam e brincaram no pátio da bela casa onde está localizado o museu.
As turmas de F2 seguiram aprofundando suas investigações sobre o ritmo. Em roda, cada criança foi convidada a criar um movimento, repetido coletivamente dentro da contagem de 8 tempos.
Começamos experimentando com a contagem em voz alta, depois apenas com palmas e, em seguida, no silêncio, momento em que cada um precisou sustentar o ritmo internamente, “na cabeça”. Quando a música entrou em cena, a sequência ganhou ainda mais energia e o desafio passou a ser manter o tempo constante dentro desse novo ambiente sonoro.
Para finalizar, propusemos uma troca de lugares na roda. Nesse exercício, as crianças tiveram que recorrer à memorização coletiva, garantindo que a sequência permanecesse igual, independentemente da posição que ocupassem.
Foi uma experiência rica de atenção, escuta e memória corporal, em que todos puderam perceber, na prática, como o ritmo é a base que sustenta e organiza a dança.
Chegou a tão esperada novidade: a letra cursiva!
Para marcar essa nova etapa, ela passou a aparecer na rotina escrita no quadro. Rapidamente, as crianças perceberam que já conheciam aqueles traçados e se entusiasmaram ao reconhecer aqueles que definem cada uma das letras. Em seguida, iniciamos o desafio de explorar os traços e a movimentação semelhante entre determinadas letras.
Toda aprendizagem requer tempo, e aprender a nova letra significa desenvolver novas habilidades motoras. Por isso, brincar, experimentar e treinar os movimentos farão parte da nossa rotina, assim como exercitar a leitura a partir da escrita de palavras e pequenas frases.
As turmas do terceiro ano iniciaram o semestre brincando com pedaços de barbantes para descobrirem, experimentando, as diferentes possibilidades da expressão da linha enquanto forma. Os pedaços foram lançados do alto e ao cair sobre a folha, formavam linhas onduladas, curvas entre outras possibilidades que surgiram. Alguns alunos se empolgaram e subiram nos bancos para trazer uma maior dramaticidade ao movimento de deixar cair o barbante. Ao encontrarem uma forma interessante eles colaram o barbante no papel e usaram essa forma para fazer uma frottage, técnica que consiste em colocar uma folha de papel sobre uma superfície texturizada( no caso as colagens com o barbante) usar como matriz e friccionar um lápis, carvão ou giz de cera sobre o papel e capturar a textura. No caso, usamos giz de cera.
Foi divertido explorar, usando a matriz mais de uma vez, as possibilidades de sobreposição de cores e reposicionamento do papel descobrindo novas formas com a mesma.
Em seguida, eles preparam uma folha guia ainda usando o barbante na qual listaram e ilustraram com pedaços de barbante as linhas reta, curva e a ondulada.
E assim iniciamos alguns conceitos básicos do desenho geométrico!
As F3 foram ao Museu do Folclore conhecer a exposição “Hãmxop tut xop – as mães das nossas coisas”.
A exposição apresenta o trabalho artesanal em fibra de embaúba produzido pelo povo Maxakali. As crianças puderam conhecer um pouco sobre a cultura dos indígenas autodenominados Tikmū’ūn e seus saberes ancestrais, transmitidos pelas mulheres através de suas mãos, de suas histórias e cantos.
A embaúba, árvore típica da Mata Atlântica, é matéria-prima para essas mulheres, fornecendo sua fibra usada na tecelagem de bolsas, redes, colares e outras peças. Na exposição, pudemos conhecer as etapas desse trabalho manual que envolve toda a comunidade, e ver de perto essas peças tão representativas.
Por fim, descobrimos que no Vale do Mucuri, território Maxakali, vem se desenvolvendo o projeto Hãmhi Terra Viva de agroecologia, que se une aos conhecimentos tradicionais com o objetivo de recuperar a mata e produzir alimentos para a comunidade.
Depois de visitar a exposição, as crianças lancharam e brincaram no jardim do Museu da República, e até encontraram um exemplar de embaúba por lá!
A esta altura do ano, as crianças das F3 já estão bem mais à vontade com a flauta doce. Já conhecem várias notas, os dedos fecham os furos com mais precisão, e a postura e a emissão do som estão cada vez mais naturais.
Para ampliar os desafios e estimular a autonomia, cada aluno recebeu um livreto com diversas músicas. A proposta é que descubram, pouco a pouco, novas possibilidades sonoras, explorando por conta própria as partituras apresentadas.
Assim, além de expandirem seu repertório, também fortalecem a familiaridade com os elementos da notação musical formal, passo importante no desenvolvimento da leitura musical.
Os quartos e os quintos anos foram apresentados ao “ponto de fuga”.
A ideia de criar um espaço dentro da composição imagética buscando uma perspectiva amadurece ao longo dos anos e começa a surgir nos desenhos de forma natural e espontânea.
Torna-se um assunto recorrente o desejo de fazer objetos e desenhos 3D. Para aproveitar esse desejo, foram apresentadas algumas possibilidades de elaborações gráficas partindo de um ponto de fuga.
O quarto ano partiu de uma linha ondulada e um ponto marcado em algum lugar acima desta linha. Em seguida, eles marcaram pontos importantes ao longo da linha ondulada e, com o auxílio da régua, uniram esses pontos ao ponto fora da linha (ponto de fuga). Alguns logo perceberam o surgimento de um plano e visualizaram o deslocamento da linha inicial sobre esse plano. Outros alunos foram transferindo cada parte da linha inicial para os espaços criados entre as linhas auxiliares, e assim conseguiram criar a ilusão de 3D. E eles ficam maravilhados com essa experiência!
As turmas do quinto ano passaram algumas aulas aprendendo a construir o que eles mesmos denominaram de “quadrado perfeito”! Durante esse processo, aprimoraram o uso da régua, aprenderam a construir linhas paralelas com a ajuda do par de esquadros e a construir um ângulo de 90° usando o transferidor. Todos esses conhecimentos foram usados na construção de um quadrado perfeito!
E foi partindo desse quadrado que fizeram a primeira tentativa de perspectiva exata, que tem como base marcar um ponto de fuga sobre uma linha do horizonte para o qual convergem pontos da forma sugerindo profundidade.
Foram semanas de muito estudo e trabalho, que culminaram com uma representação artística tendo como base uma estrutura geometricamente traçada.
A leitura de narrativas com temáticas voltadas para a infância tem aproximado a discussão sobre tipos de narradores, discursos e os efeitos estilísticos que eles provocam nos leitores. Tudo é Crônica, de Maria José Silveira, obra literária adotada para auxiliar na compreensão desse gênero, juntamente com outras propostas, como jogos de criação de histórias na Biblioteca, tem animado e estimulado a produção escrita das crianças.
Com essas ferramentas, ampliamos o repertório de recursos de escrita e incentivamos a criação de textos de autoria das crianças, que ainda se comprometem a partilhar suas produções com o objetivo de aprimorá-las.
Dessa forma, abordamos a produção textual como uma atividade exigente, mas também prazerosa, sobretudo quando elas exibem, com orgulho, um texto elaborado com afinco.